Como pode o Guarda-redes prever a direção da bola na grande penalidade?

O facto da grande penalidade ser um evento de curta duração evidencia a importância do guarda-redes conseguir detectar informação relevante para agir atempadamente. As fontes possíveis de informação que permitam antecipar a direcção da bola são oriundas no movimento do rematador. A questão essencial é então saber que variáveis cinemáticas do Rematador predizem a direcção da bola. A investigação aponta para variáveis locais e distribuídas como bons predictores em tempo útil para os Guarda-Redes. Além disso, foram identificadas fontes de informação distribuídas por diversos locais em simultâneo. Uma forma de se saber quais as fontes mais fiáveis de informação oriundas do rematador é a de comparar remates em que se simula um remate numa direcção, mas remata-se noutra, com situações sem simulação.
Isto permite testar o princípio da não-substituição da acção genuína na Grande Penalidade.

Métodos

Doze Rematadores profissionais executaram 60 Grandes Penalidades à distância regulamentar e numa baliza oficial, perante cinco Guarda-redes amadores.
Duas zonas-alvo de cores verde e vermelha foram colocadas junto aos postes da baliza.
Reflectores foram colocados nas articulações dos Rematadores e um sistema de vídeo de infravermelhos (150Hz) captou os seus movimentos.
As variáveis independentes consideradas foram a direção da Grande Penalidade (esquerda (verde)/direita (vermelha) e a estratégia do Rematador (simulação/não-simulação), que originaram quatro instruções: 1) remata para verde sem simulação,
2) remata para vermelho sem simulação,
3) remata para verde mas simula para vermelho, e
4) remata para vermelho e simula para verde.

variáveis cinemáticas foram selecionadas: ângulos dos pés não dominante e dominante, joelho dominante, cabeça, ombros, ancas, e de aproximação do Rematador à bola; direcção e velocidade do pé dominante.

Uma câmara

standard (25Hz) gravou o desempenho e permitiu categorizar mais duas variáveis: resultado da Grande-Penalidade e direcção horizontal da bola. Resultados Ao nível da eficácia, não foram encontradas diferenças significativas entre as estratégias simulatórias e nãosimulatórias. Os ângulos do pé não dominante, joelho dominante e velocidade do pé dominante demonstraram correlações elevadas ( r=0.8 ) cerca de 200-300 ms antes do contacto. Ocorreram diferenças significativas entre simulação e não simulação no ângulo de aproximação do Rematador à bola e nos ângulos dos ombros e cabeça.

Em relação aos modelos de regressão, foram encontradas três tendências:
1) fraca relação entre as variáveis e a direcção da bola até 0.5 s antes do contacto ( r=0.5), seguido de forte relação (r>0.7) até ao contacto,
2) a associação de variáveis cinemáticas no modelo de regressão, revela valores de correlação superiores aos das variáveis individuais, e
3) os modelos de regressão múltipla não foram influenciados pelas estratégias dos Rs.

Conclusão

As variáveis cinemáticas com maior relação com a direcção da bola situam-se essencialmente na parte inferior do corpo dos Rs, enquanto as variáveis mais susceptíveis à simulação se situam na parte superior.
Algumas variáveis inicialmente susceptíveis à simulação, deixaram de o ser aquando do contacto com a bola, o que corrobora

o princípio da não-substituição da acção genuína. Os Rs alteram aspectos locais do seu movimento mas, nos instantes finais, não evitam a correlação da sua acção com a direcção da bola.
Por último, a regressão múltipla revelou a existência de informação distribuída, bem como a independência dessa informação em relação ao acto simulatório dos Rs.