Uma das maiores sensações de frustração para um atleta é a ocorrência de uma lesão que o impede de concretizar todo o seu potencial atlético.
As lesões directamente dependentes da incorrecção do gesto desportivo adquirem particular importância por ocorrerem e recorrerem sistematicamente, quando o atleta se encontra praticamente no máximo da sua forma física, levando em períodos cruciais da sua preparação à interrupção dos treinos (Custódio, 1995, citado por Massada, 1987).
As lesões directamente dependentes da incorrecção do gesto desportivo adquirem particular importância por ocorrerem e recorrerem sistematicamente, quando o atleta se encontra praticamente no máximo da sua forma física, levando em períodos cruciais da sua preparação à interrupção dos treinos (Custódio, 1995, citado por Massada, 1987).
No Campeonato do Mundo de França em 1998 foram analisados e calculados, em 50 jogos seleccionados entre os jogados, os gestos técnicos mais executados pelos guarda-redes e as principais constatações foram, segundo Deshors (1998):
- O número médio de intervenções por guarda-redes por jogo foi de 41,5.
- As intervenções decisivas representam 19,2%, ou seja, uma média de 8 por partida.
- Os 5 gestos técnicos mais representativos são:
1 – Pontapé com a bola estática: 29,4%
2 – Lançamento com a mão: 11,58%
3 – Bola bloqueada: 11,49%
4 – Pontapé de um passe atrasado: 9,44%
5 – Controle da bola e pontapé: 8,21%
3.1 - Posição básica
Para Iorio (2002) o principal objectivo do guarda-redes consiste em evitar que a bola ultrapasse a linha de golo; para isso ele intervém sobre a bola mediante a realização de acções técnicas específicas.
Todas as acções técnicas têm o seu início numa posição fundamental assumida pelo guarda-redes, e sem a qual seria muito difícil executar as acções técnicas de forma correcta.
Para este autor a posição básica pode ser definida como a forma corporal assumida pelo guarda-redes no sentido de facilitar a execução das acções técnicas posteriores com a máxima eficácia.
É fundamental que a execução correcta da posição básica seja feita a partir de um correcto tónus muscular.
Assim, a cabeça deve encontrar-se erguida de forma a acompanhar a bola com o olhar, o tronco ligeiramente inclinado à frente, os braços 16 ligeiramente flectidos e à frente com as mãos à altura dos joelhos, as pernas semiflectidas e afastadas formando uma boa base de sustentação, os pés podem assumir duas posições: (a) com toda a superfície plantar em contacto com o solo;
(b) apenas a parte anterior contacta com o solo, (Ocaña, 1997).
Fig. 1 - Superfície plantar para a adopção de uma correcta posição básica (adaptado de Ocaña, 1997).
3.2 - Recepção Ocaña (1997) refere a recepção como a utilização dos membros superiores de modo a facilitar a posse ou o controlo da bola com as mãos ou os braços, reduzindo parcial ou totalmente a velocidade da bola.
A recepção é classificada de acordo com a posição do guarda-redes em relação à trajectória da bola; assim a recepção pode ser:
3.3 - Recepção alta Realizada acima da linha dos ombros, sempre à frente ou sobre o eixo longitudinal corporal, e com os braços estendidos (Ocaña, 1997).
Esta acção técnica pode ser executada em salto ou em apoio e sempre com os polegares juntos (mãos em forma de concha).
Fig. 2 - Posição das mãos para a recepção alta (adaptado de Ocaña, 1997).
3.4 - Recepção média Realizada entre a linha dos ombros e a linha da cintura, as mãos situam-se no plano frontal de forma a que o corpo constitua uma segunda barreira entre a bola e a baliza (Ocaña, 1997). Fig. 3 - Proteger sempre a bola com o corpo (adaptado de Ocaña, 1997).
3.5 - Recepção baixa Segundo Iorio (2002) esta acção técnica é realizada entre a linha da cintura e solo, com um joelho flectido e apoiado no chão, o tronco flectido à frente e com os braços estendidos (procura juntar os antebraços). Fig. 4 - Proteger sempre a bola com o corpo (adaptado de Ocaña, 1997).
3.6 - Recepção em queda Realizada com qualquer superfície corporal em contacto com o solo (queda lateral) à excepção dos apoios plantares.
Com os braços estendidos, flexão e abdução da perna que entra em contacto com o solo e os dedos das mãos afastados (Ocaña, 1997). Para maior segurança, no final da acção técnica, levar a bola ao peito pressionando-a com os braços, antebraços e mãos. Fig. 5 - Braços estendidos no prolongamento do corpo (adaptado de Ocaña, 1997).
3.7 - Recepção com encaixe
Para Iorio (2002) a recepção com encaixe pode ser definida como a acção técnica que possibilita ao guarda-redes a posse da bola através de uma única acção, reduzindo totalmente a velocidade da bola através do contacto desta contra o peito e a simultânea pressão realizada pelos antebraços e mãos contra o corpo do guarda-redes. Fig. 6 - É importante que a acção dos braços e antebraços seja coordenada com o impacto da bola no peito (adaptado de Ocaña, 1997). A recepção com encaixe diferencia-se das outras acções técnicas por utilizar o peito como superfície corporal na realização do gesto técnico.
Esta acção técnica é classificada como:
3.8 - Recepção com encaixe médio Fig. 7 - Encaixe médio (adaptado de Ocaña, 1997). 20
3.9 - Recepção com encaixe em queda Fig. 8 - Encaixe em queda (adaptado de Ocaña, 1997).
3.10 - Desvios De acordo com Ocaña (1997) os desvios são acções técnicas que consistem em modificar a trajectória e/ou o sentido da bola, dando-lhe uma direcção determinada com propósito defensivo.
Os desvios podem ser classificados de acordo com a superfície de contacto com a bola, deste modo temos:
Desvios com a mão - realizam-se quando a bola descreve uma trajectória aérea, o contacto com a bola é precedido de um deslocamento frontal e nunca deve ser efectuado em apoio. Esta acção técnica deve ser utilizada quando a recepção da bola seja inadequada ou quando a sua posse não seja garantida.
Desvios com o pé - com o novo quadro de regulamentos esta acção técnica foi valorizada. Alguns dos erros mais comuns são desviar a bola para as zonas centrais e desviar a bola sem contudo a tirar do centro do jogo.
3.11 - Colocação e orientação
Para Cabezón (2001) a colocação do guarda-redes é fundamental para o correcto desempenho da sua função táctica. O guarda-redes deve modificar a sua colocação em função da direcção da bola, dos seus companheiros e dos seus adversários. O conceito de orientação do guarda-redes surge quando este se desloca no terreno com o objectivo de intervir no jogo. Cabezón (2001) refere como pontos de referência para a orientação do guarda-redes as esquinas da grande área, o semi-circulo da grande área e a marca da grande penalidade.
Ocaña (1997) refere que a colocação e orientação do guarda-redes quando a equipa se encontra em posse de bola deve ter em atenção: Evitar abandonar as zonas centrais da grande área; Situar-se no semi-circulo da sua grande área, com o objectivo de dar profundidade à sua linha defensiva.
3.12 - Saída Esta acção técnica é realizada pelo guarda-redes quando sai da sua área de protecção no sentido de intervir sobre a bola utilizando, para tal um gesto técnico específico (recepção ou desvios).
A execução técnica da saída divide-se em dois momentos distintos: (a) o deslocamento e (b) a intervenção sobre a bola.
A bola encontra-se na posse do adversário que a conduz na direcção da baliza.
Na acção de condução de bola, diferenciam-se dois momentos,
(1) um em que a bola se encontra fora do controlo motor do atacante
(2) e outro em que o jogador está em contacto com a bola.
É, pois, no primeiro momento (1) que o guarda-redes deve intervir sobre a bola, de forma rápida e decidida. Fig. 9 - Momento da intervenção do Gr sobre a bola (adaptado de Ocaña, 1997).
As saídas, com orientação defensiva, classificam-se de acordo com o tipo de deslocamento feito pelo guarda-redes, assim temos: Saída frontal - deslocamento frontal. Saída lateral - deslocamento lateral.
3.13 - Reposição de bola em jogo Iorio (2002) define-a como a acção realizada pelo guarda-redes em posse de bola com o objectivo de dar continuidade ao jogo. Em função da superfície corporal utilizada para a realização do gesto técnico, pode classificar-se a reposição de bola em jogo como reposição com o pé e reposição com a mão.
3.14 - Reposição com o pé Para uma correcta execução deste tipo de reposição é fundamental que o guarda-redes realize em simultâneo um deslocamento frontal e uma extensão completa do braço que lança a bola para o pé. Fig. 10 - Deslocamento frontal e extensão completa do braço que lança a bola para o pé (adaptado de Ocaña, 1997).
Alguns dos erros mais comuns na realização da reposição de bola com o pé são: Flectir o braço que lança a bola; Executar a reposição para fora do terreno de jogo; Realizar o gesto técnico a partir de uma posição estática.
3.15 - Reposição com a mão
Como critérios de execução para este gesto técnico o autor acima citado refere a extensão completa do braço e o olhar dirigido para a zona alvo. Fig. 11 - Extensão completa do braço e olhar dirigido para a zona alvo (adaptado de Ocaña, 1997).
Alguns dos erros mais comuns na realização da reposição de bola com a mão são: Flectir o braço que executa; Realizar um lançamento de precisão em que a bola contacta com o solo antes de contactar com o jogador.
4 - ESPECIFICIDADE DO TREINO
De todos os intervenientes num jogo de futebol, o guarda-redes parece ocupar uma posição especial devido às características das suas acções, das tarefas a desempenhar e das condições a que está submetida a sua prestação, por vezes, sujeita a grande stress (Eklbom, 1999). De acordo com Montero (2000), o guarda-redes de futebol é o elemento mais importante de uma equipa, uma vez que qualquer equívoco ou falha pode afectar negativamente o trabalho de toda a equipa. A grande "pressão" a que este jogador está sujeito, assim como a grande influência que tem em relação ao êxito, ou ao insucesso da sua equipa, aliados à confiança que poderá transmitir aos colegas, poderão ser factores que contribuem para tal. Acima de tudo, o que salta à vista é que o guarda-redes tem um papel cada vez mais fundamental no seio de uma equipa de futebol. Não deixa de ser relevante o aumento da média de intervenções decisivas por jogo, que pressupõe uma jogada iminente de golo. Isto quer dizer que os guarda-redes estão a desenvolver um trabalho cada vez melhor, a que não são com certeza alheios os revolucionários métodos de trabalho, quer sejam de natureza física, técnico-táctica e, porque não, de natureza psicológica. A evolução do futebol, tal como sucede em qualquer outra actividade humana, passa pela constante procura e pela utilização de meios e de métodos, cada vez mais ajustados e mais eficazes (Garganta, 1997). Neste sentido, muitos têm vindo a ser os progressos efectuados ao nível do treino do guarda-redes nos últimos anos, atribuindo a maioria dos estudos grande importância à necessidade de um treino específico e dirigido (Madeira, 2002). No contexto actual, o treino desempenha um papel fundamental na prevenção de lesões, uma vez que muitas das vezes, " as cargas de treino percorrem os limites da tolerância funcional, numa relação estreita entre o êxito desportivo e a resistência estrutural " (Pinheiro, 1998, pp.15). As qualidades indispensáveis para fazer frente a um papel tão difícil como o de guarda-redes são múltiplas e de ordem psíquica, técnica e física.
4.1 - Qualidades físicas do guarda-redes - Estatura superior à média; - Força de arranque ou de elevação; - Capacidade de saída ou velocidade de deslocação em curtas distâncias; - Velocidade de reacção ou rapidez de reflexos; - Potência generalizada de todos os músculos do corpo; - Flexibilidade ou mobilidade articular; - Equilíbrio; - Agilidade e dotes acrobáticos; - Coordenação motora; Pode dizer-se que a grande estatura não pode ser considerada como um parâmetro exclusivo para a eleição de um indivíduo como guarda-redes; sem dúvida, que é um dom preferencial quando está acompanhado de outras características físicas.
Uma ampla abertura dos braços, as mãos largas, uma discreta amplitude articular na região dos ombros, das ancas, da coluna vertebral, uma particular sensibilidade das mãos relativamente ao contacto com a bola, acompanhada por uma rápida capacidade de reacção e uma boa formação muscular, junto com uma grande elasticidade de movimentos, são qualidades que influem favoravelmente no quadro físico ideal de guarda-redes. Segundo Iorio (2002), os guarda-redes de futebol, possuem em geral uma estatura entre 1,75m e 1,90m e um peso entre 70Kg e 85 Kg. As capacidades motoras dos guarda-redes deverão ser sempre aferidas com o intuito de melhorar a capacidade de jogar futebol, sendo fundamental a sua interacção e a integração com várias componentes que contribuem para melhorar essa capacidade de jogo (Konzag, 1995).
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