terça-feira, fevereiro 05, 2013

A SOLIDAO DE UM GUARDA-REDES:

Costuma-se dizer que só vai para a baliza quem não tem jeito para jogar na frente, mas não foi esse o meu caso, apenas fui para a baliza porque era o que tinha mais jeito para defender. Ser guarda-redes tem que se lhe diga pois é sempre o último a ser batido. É o único que não pode falhar. Pode fazer uma dúzia de boas defesas, mas deixou entrar um golo que até podia ter feito mais, a equipa perde o jogo e a culpa é do guarda-redes. Um penalty é um desespero para o guarda-redes se olhar para os lados e ver tanto espaço onde a bola pode entrar. Sentimo-nos pequeninos. Mas quando se defende dá uma satisfação quase como uma vitória. Quando acabo um jogo e não sofri golos sinto como que o dever cumprido. No fim de cada jogo, embora não corra muito sinto-me cansado porque a concentração também cansa e muito. As defesas que eu mais gosto de fazer são aquelas em que o jogador já está a gritar golo e eu no último instante ainda consigo ir lá defender a bola. Há alturas em que me pergunto se vale a pena sofrer tanto para ser um melhor guarda-redes e acabo sempre por dar a mesma resposta: VALE. É o que eu mais gosto de fazer.

Jorge Batista
Guarda-redes do Estoril Praia SAD

Não tenho presente na memória qualquer episódio de solidão durante um jogo de futebol. Quando estou em campo procuro abstrair-me do que se passa em redor do terreno de jogo, centrando todos os sentidos no que acontece dentro de campo. É um período de extrema concentração e introspecção, em que não nos podemos deixar afectar por nenhum factor exterior ao jogo. A única altura em que uma pequena sensação de "isolamento" me invade, acontece no espaço de tempo que medeia a entrada em campo e o apito inicial do Árbitro. Aqueles segundos em que deixo os colegas de equipa no centro do terreno e me dirijo para a baliza e grande área desertas há de facto presente uma pequena sensação de solidão.


Moreira



"O TAL PENALTY"

Se houvesse segunda série de grandes penalidades, eu estava previsto para aquela que fosse o primeiro ou o segundo penalty, no desempate diante da Inglaterra. E a verdade é que a oportunidade chegou. Era a sétima marcação e a pressão era enorme. O entusiasmo e a ansiedade estavam de braço dado, até porque, momentos antes, tinha acontecido o tal penalty…Vassel era um dos poucos jogadores ingleses a quem eu nunca vira marcar uma grande penalidade. E era ele que o ia fazer. Estava diante de mim. Olhei-o. Disse ao árbitro assistente que ia defender! Fez-se em mim um silêncio divino. Senti-me sozinho sem estar só… pensei que ia ser como eu queria e decidi tirar as luvas. Seria mesmo assim! Olhei o Vassel. Ele, por sua vez, olhava para o árbitro com ar espantado, com o meu tirar as luvas. Acho que isso o confundiu… Deixei de ouvir o que quer que fosse. Silêncio. talvez solidão, porque um guarda-redes, regra geral, é sempre o último a ser batido. Vassel chuta. Eu defendo. E regresso ao mundo real com a explosão colectiva do êxito alcançado. Depois foi a minha vez de chutar. Era o sétimo penalty. Voltei a sentir o silêncio dos grandes e decisivos momentos. Acreditei. Marquei. E seguiu-se nova explosão de alegria. Alegria imensa. Mas a minha alegria era também por causa da alegria que tinha dado a tanta gente. A mesma gente que nunca me deixa estar só na minha solidão de guarda-redes!...


Ricardo
Guarda-redes da Selecção Nacional
Guarda-redes do Olhanense



UM JOGO TERRÍVEL
A solidão de um guarda-redes (que é um facto, no futebol só comparável à do jogador que marca um penalti) é obviamente levada ao paroxismo, nesta peça de Didier kaminka, um autor checo que quis desta forma mostrar até que ponto um homem (no caso, o guarda-redes), judeu e vivendo sob dominação totalitária, pode por isso mesmo ser isolado, marginalizado, praticamente destruído.
Na actual versão, não sendo nós, portugueses, um povo historicamente anti-judeu e muito menos dominado hoje em dia por qualquer totalitarismo, essa dominação totalitária de que atrás falei fica pois mais circunscrita à - digamos assim - anedota a peça (o seu pretexto aparente) do que a esses outros pretextos, subjacentes mas claros, da versão original. O totalitarismo está contudo sempre presente, desde o 1º ao 90º minuto do jogo, quando o jogo acaba. Um jogo aliás terrível, até na medida em que não se limita a pôr em campo o totalitário, o concentracionário, mas também as consequências, nas suas vítimas, de ambos, mesmo (aqui) sem antisemitismo nem cortinas de ferro, ou outras, à mistura. Consequências levadas de resto por Didier kaminka a um tal (como disse) paroxismo, e até a um tal non-sense, que bem pode dizer-se a respeito da "Solidão de um guarda-redes" que se trata de um espectáculo absolutamente trágico e cómico porque é efectivamente o que ele é. Nesta versão, com um final de alguma esperança, porém.

António Tavares-Teles


No dia em que fiz a minha primeira defesa fui o miúdo mais feliz do mundo. Foi uma grande defesa, daquelas que ficam muito bem em fotografias, mas que lamentavelmente ninguém apanhou, porque havia pouca gente à volta e o jogo não contava para o totobola. Mas fixei-a na minha memória para sempre como a coisa mais bonita de todas, a mais espectacular, aquela que as televisões não mostraram e que nunca ninguém há-de ver, porque é só minha. 
Vive eternamente na minha memória… E esse é um momento que às vezes me acompanha quando a bola anda na área do guarda-redes adversário… E parece que não há nada que fazer.
Mas um guarda-redes nunca está só nem de mãos a abanar…
Acompanha-o, pelo menos, o pensamento, que com a sua força, a sua velocidade, pode ser um bom companheiro - enquanto a bola anda lá longe não dá para fazer contas à vida, mas sempre se pode sonhar com a grande defesa que ainda não se fez nesse jogo e que, se calhar, vai ser na jogada seguinte… Oxalá!
Mas o pensamento torna-se, no entanto, um inimigo feroz quando dá lugar ao sonho.  É quase proibido sonhar na baliza; sonhar acordado é bom.
Na baliza pode tornar-se o mais horrível dos pesadelos…
Diz o poeta que o sonho comanda a vida, mas um guarda-redes está proibido de sonhar durante um jogo. Porque se o fizer, arrisca-se a ver a bola passar… É assim que às vezes nascem os inimigos dos guarda-redes, os frangos. E aí, sim, a solidão é tremenda.
Porque na hora de um mau momento, mesmo que da bancada venham palmas, ainda que os colegas sejam solidários, como são normalmente, e nos batam nas costas, ainda que o treinador tenha uma palavra de conforto, a solidão bate mais forte do que a bola no fundo da baliza.
É incrível este paradoxo: estar só no meio de tanta gente.
Por mim, prefiro lembrar-me dos melhores momentos, daqueles em que ouço as palmas porque fiz as coisas bem.
Como no dia em que fiz aquela minha primeira defesa, que é só minha, que os fotógrafos não apanharam e as televisões não mostraram porque não estavam lá. É assim que consigo dar algumas goleadas à solidão.


Vítor Baía

Sem comentários:

Enviar um comentário

WELCOME

Bem-vindo ao meu Blog
Minha vida profissional e desportiva sempre esteve ligada ao futebol, para o papel do guarda-redes e formação específica, tornando-se por muitos anos o meu trabalho principal.
Eu tive sorte o suficiente para treinar em quase todas as categorias.
Todas essas experiências, reuniões com técnicos, o guarda-redes, a sociedade, as diferentes culturas fizeram de mim o que sou hoje crescer mais do que um professor que não quer parar de aprender.
Então eu vou tentar compartilhar com vocês a minha paixão.
Divirta-se e um grande abraço a todos!

Paulo Fortunato ⚽️










CURRICULUM

NOME: PAULO FORTUNATO
ANO NASCIMENTO: 1978
NATURALIDADE: COSTA DA CAPARICA
NACIONALIDADE: PORTUGUESA
EMAIL: paulofortunato78@gmail.com
TELF: +351 92 68 49 738

TREINADOR DE GUARDA-REDES:

2008/2009 Beira Mar de Almada
2009/2010 Beira Mar de Almada
2010/2011 Clube Futebol Trafaria
2010/2011 Belenenses SAD SUB-19
2011/2012 Almada Atlético Clube
2012/2013 Odivelas SAD
2013/2014 Odivelas SAD
2014 SELECAO NACIONAL AZERBAIJÃO
2015 SELECAO NACIONAL AZERBAIJAO
2015/2016 AD Carregado
2016 CASA BENFICA LOURES (Praia)
2017 CASA BENFICA LOURES (Praia)
2018 CASA BENFICA LOURES (Praia)
2019 GDP Costa Caparica (Praia)
2019 Club Sport Marítimo (Praia)


����������������

2008/2009 Subida de Divisão
2011/2012 Subida de Divisão
2012/2013 Campeão
2013/2014 Subida de Divisão
2014 Participação Super-Final da Liga Europeia em Torredembarra Espanha
2014 Participação na Qualificação para o Campeonato do Mundo em Jesolo
2015 Participação Super Cup da Europa em Baku Azerbaijan
2015 Participação Super-Final da Liga Europeia em Siofok Estônia
2015 Participação 1st European Games em Baku Azerbaijan
2016 Vencedor Taça AFL
2017 Vencedor Taça de Lisboa
2018 Campeão da Liga de Inverno

AFFA AZERBAIJAN

AFFA AZERBAIJAN
Paulo Fortunato

NOTICIAS NO MUNDO

Número total de visualizações de páginas

Pesquisar neste blogue

Casa Benfica Loures 2016

Casa Benfica Loures 2016
Paulo Fortunato

MENSAGENS POPULARES NO BLOG

CARACTERISTICAS DE UM GUARDA-REDES

CARACTERISTICAS DE UM GUARDA-REDES