Guarda-Redes Avançado: A Revolução do Futebol de Praia Moderno (Parte I)
O futebol de praia mudou na última década, dada a crescente preponderância dos guarda-redes no ataque. Como foi que tudo mudou? Que perspectivas se abrem?
Uma questão que se coloca com frequência no mundo do futebol de praia prende-se com as possibilidades de inovação táctica do jogo.
Quais as mais recentes tendências da modalidade?
De que forma será possível introduzir alterações que contribuam para uma reinvenção constante do futebol de praia, assegurando o seu carácter enquanto um desporto dinâmico, em permanente evolução?
Quais as mais recentes tendências da modalidade?
De que forma será possível introduzir alterações que contribuam para uma reinvenção constante do futebol de praia, assegurando o seu carácter enquanto um desporto dinâmico, em permanente evolução?
Redefinição do papel do guarda-redes no ataque
Analisando o futebol de praia nos últimos 5 anos, a mudança mais significativa que se tem vindo a registar prende-se com a ampla globalização do novo papel do guarda-redes enquanto inicializador da construção do processo ofensivo saindo a jogar com os pés fora da sua área defensiva.
Nesta abordagem ao jogo, a acção do guarda-redes cria uma situação de vantagem numérica para a equipa que ataca, uma vez que passa a dispor de mais um elemento no ataque e obriga a equipa adversária a adaptar o seu posicionamento em campo, por forma a anular o desequilíbrio em tempo eficaz.
Por esta razão, tal abordagem é comumente referida como 5×4, à semelhança do futsal.
Nesta abordagem ao jogo, a acção do guarda-redes cria uma situação de vantagem numérica para a equipa que ataca, uma vez que passa a dispor de mais um elemento no ataque e obriga a equipa adversária a adaptar o seu posicionamento em campo, por forma a anular o desequilíbrio em tempo eficaz.
Por esta razão, tal abordagem é comumente referida como 5×4, à semelhança do futsal.
Em geral, a saída para o ataque processa-se com a equipa disposta segundo duas linhas, uma mais recuada com dois jogadores bem abertos nas alas e dois jogadores mais ofensivos, próximos da baliza adversária, cumprindo as funções de pivôs.
Trata-se da disposição utilizada por praticamente todas as equipas que utilizam o jogo de pés do guarda-redes de forma eficaz, motivo pelo qual esta abordagem é também conhecida como sistema 2:2 (ou mais consistentemente 1:2:2, numa alusão ao papel preponderante do guarda-redes enquanto elemento que intervém directamente na construção do ataque).
Trata-se da disposição utilizada por praticamente todas as equipas que utilizam o jogo de pés do guarda-redes de forma eficaz, motivo pelo qual esta abordagem é também conhecida como sistema 2:2 (ou mais consistentemente 1:2:2, numa alusão ao papel preponderante do guarda-redes enquanto elemento que intervém directamente na construção do ataque).
Hoje em dia, seguramente mais de metade das selecções nacionais dos 5 continentes utiliza o 2:2 como parte importante da construção do seu jogo, tratando-se em muitos casos do sistema de base que orienta todo o seu jogo, quando não chega a monopolizar por completo as operações ofensivas das equipas. Mas como se deu esta revolução táctica?
O que vem acrescentar ao futebol de praia e que portas vem abrir para o futuro?
O que vem acrescentar ao futebol de praia e que portas vem abrir para o futuro?
Dos primeiros guarda-redes goleadores à frieza do leste europeu
As primeiras incursões dos guarda-redes fora da área começaram a verificar-se de forma consistente, por forma a criar desequilíbrios esporádicos, durante os anos de 2010 e 2011.
No entanto, era ainda uma opção pouco explorada nessa fase, tendo como resultado mais visível o surgimento dos primeiros guarda-redes goleadores: Bukhlitskiy na Rússia, Paulo Graça em Portugal, Spada e Del Mestre na Itália, entre outros.
No entanto, era ainda uma opção pouco explorada nessa fase, tendo como resultado mais visível o surgimento dos primeiros guarda-redes goleadores: Bukhlitskiy na Rússia, Paulo Graça em Portugal, Spada e Del Mestre na Itália, entre outros.
Gradualmente, as equipas foram começando a trabalhar o sistema 2:2 por forma a tirar maior partido da superioridade numérica, procurando libertar espaço nas alas para a criação de desequilíbrios.
Neste processo foram particularmente relevantes as equipas da Europa de leste, nomeadamente a então campeã mundial Rússia, que dominou o panorama europeu e mundial até à ascensão de Portugal no ano de 2015.
Neste processo foram particularmente relevantes as equipas da Europa de leste, nomeadamente a então campeã mundial Rússia, que dominou o panorama europeu e mundial até à ascensão de Portugal no ano de 2015.
De facto, a transição para um sistema 2:2 muito frio e paciente possibilitou aos russos a revalidação do ceptro mundial no Taiti em 2013, entre outros títulos numa era em que Portugal, Brasil e demais concorrentes tardavam em responder ao poderio cada vez menos vistoso dos czares. Bukhliskiy desempenhou um papel fundamental no processo, certamente pela sua técnica, mas acima de tudo pela formidável inteligência de jogo. O seu homólogo ucraniano, Sydorenko, revelou dotes semelhantes, constituindo-se como um dos principais responsáveis pelo retorno da sua selecção aos grandes palcos europeus e mundiais. No entanto, no nosso entender, não foram estes os grandes responsáveis pela generalização global do sistema 2:2.
Tiki Toa: a Revolução Taitiana com mãos helvéticas
O ponto de viragem na utilização do guarda-redes como inicializador do ataque deu-se precisamente em 2013, no mundial do Taiti, mas por iniciativa da selecção da casa. Sendo certo que muitas das equipas à escala global recorriam com alguma frequência ao 5:4 como forma alternativa de sair para o ataque e criar desequilíbrios, a ideia ainda não era verdadeiramente encarada como uma alternativa consistente aos sistemas convencionais.
Foi uma selecção taitiana desejosa de mostrar qualidade e espectáculo perante o seu povo quem, liderada pelo seleccionador suíço Angelo Schirinzi (que até então não se revelara propriamente um entusiasta do jogo de pés dos guarda-redes), mostrou perante o mundo as potencialidades aparentemente inesgotáveis do sistema 2:2.
Os polinésios baseavam a construção do seu jogo na acção do seu guarda-redes Jonathan Torohia fora da área como ponto de partida para um jogo vibrante, de alta intensidade, trocando a bola pelo ar e colocando as defesas adversárias permanentemente debaixo de fogo. O 2:2 constituía-se assim como uma saída de jogo apaixonante e espectacular, por oposição ao abaixamento de ritmo de jogo que tinha significado até então quando posta em prática pelas equipas do leste europeu. O Taiti não venceu o mundial, é certo, mas alcançou a 4ª posição e lançou as bases da filosofia de jogo que catapultaria a pequena nação da Oceânia para a final em dois mundiais consecutivos, em 2015 e 2017. Mais ainda, inspirou várias outras selecções um pouco por todo o mundo a seguir o seu exemplo. A revolução estava apenas a começar…
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