Mourinho abriu a polémica o ano passado mas a sua saída não foi suficiente para estancar a ferida aberta na baliza do Real Madrid: Casillas perdeu a titularidade para Diego López e está com dificuldade em recuperá-la. O problema é que a gestão deste caso por parte de Ancelotti não está a ser a melhor. Casillas é uma instituição do clube espanhol e, apesar de alguns episódios esporádicos, foi sempre o dono da baliza nos últimos doze anos. E, mais importante ainda, é um guarda-redes de topo, um dos melhores do mundo da actualidade e a caminhar para ser considerado um dos melhores de sempre, na minha opinião. Mas foi o seu estatuto que prejudicou a relação que teve com Mourinho já que o técnico português nunca conviveu bem com a postura no balneário do guarda-redes espanhol. Esta relação fria e distante fez com que Mourinho fosse buscar um guarda-redes de topo para concorrer com Casillas. Diego Lopez chegou numa altura que o titular se debatia com uma lesão prolongada e agarrou o lugar até ao final da época. Com a chegada de Ancelotti, a imprensa desportiva espanhola divertiu-se bastante nas últimas semanas a tentar adivinhar quem seria o titular do treinador italiano neste início de época. Foi rodando os dois guarda-redes durante os amigáveis e nunca revelou nas conferências de imprensa quem seria o eleito. Na hora decisiva escolheu Diego López, originando um pequeno sismo no universo madridista que contava ver novamente Casillas a brilhar, apesar de muitos verem em Diego López uma solução de grande nível – ele nunca comprometeu nos jogos da época passada e chegou a fazer exibições brilhantes, como por exemplo em Old Trafford.
Casillas, e isso é público, não gostou de ser relegado novamente. Os admiradores de Mourinho rejubiliam, obviamente, mas a verdade é que se compreende o enfado do guarda-redes: em ano de Mundial, possivelmente o último que ele tem hipóteses de jogar, Casillas não vê com bons olhos não ser o dono da baliza do clube onde está. As especulações crescem sobre a sua possível saída, ele que só conheceu um clube na vida. Mas poderá ser a única opção se não contar com o apoio do treinador. Mas voltemos a Ancelotti, que geriu muito mal esta situação. Sou partidário que em todas as equipas, mas principalmente nas de topo, esteja bem definido quem é o guarda-redes titular desde o início da época. Não quero com isso dizer que os suplentes não tenham possibilidade de lutar pelo lugar. Mas a posição debaixo dos postes é diferente da de lateral-esquerdo, trinco ou extremo. O guarda-redes tem uma relação completamente diferente com o jogo já que é o que menos joga em equipa dentro do campo. É o último reduto de um conjunto de pessoas, a última barreira na concretização do objectivo principal do adversário. Nesse sentido, a vertente psicológica é mais acentuada e haver um debate em torno da titularidade do dono da baliza fragiliza muito a união de uma equipa. Ainda por cima quando estamos a falar de um capitão de equipa. Ancelotti deveria ter dito “o meu titular é Diego López e ponto final”. Mas após a primeira jornada declarou que não sabia se no jogo seguinte seria o mesmo titular na baliza do Real Madrid. Não quero aqui armar-me em advogado de defesa de Casillas mas esta situação não é boa nem para ele, nem para López, nem para a equipa. E sim, estou a dar entender que ter dois guarda-redes de topo pode ser prejudicial para uma equipa. O suplente do titular deve cumprir alguns requisitos. A nível psicológico deve estar preparado para lidar com a sua situação de suplente e deve comprometer-se a trabalhar arduamente para manter alerta o titular, ao mesmo tempo que se mostra preparado para uma eventualidade. A nível técnico deve ter valor quase semelhante ao titular, o que é algo difícil de avaliar. Mas podemos pegar na questão da idade: um jogador mais veterano pode ser importante para passar experiência; um mais jovem de qualidade permitirá que este aprenda com o seu colega mas dá um sinal ao titular que tem atrás de si alguém com sede de ganhar o seu lugar. No caso do Real Madrid actual, ter dois excelentes guarda-redes está a revelar-se prejudicial porque fazer uma rodagem mais alargada do que a habitual – jogos nas Taças – cria instabilidade e dificulta os mecanismos com a defesa à sua frente, para além de ser um ponto de instabilidade que o adversário aproveitará. É urgente para o sucesso do Real Madrid que algo aconteça. Ou um deles sai ou Ancelotti clarifica rapidamente quem é o dono da baliza merengue.
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