Treinar o GR significa prepará-lo para resolver os problemas, inclusive na organização coletiva da equipe. O GR é um jogador com ações distintas dos demais atletas no futebol.
Ele é o único que pode tocar a bola com as mãos e que tem a difícil missão de proteger a meta das investidas do adversário.
Ele é o único que pode tocar a bola com as mãos e que tem a difícil missão de proteger a meta das investidas do adversário.
Contudo, sua ação se resume a proteção à meta? Com o objetivo de responder a pergunta acima fiz um estudo sobre a ação do goleiro dentro do jogo. Neste estudo, analisei todos os jogos de dois jogadores desta posição no Campeonato Brasileiro de 2009.
O fato foi que me surpreendi um pouco com os resultados. Vou apresentar de forma resumida alguns dados encontrados.
Os dados gerais me mostraram que o GR A agiu em média 37 vezes durante o jogo, (contando apenas ações com bola); já o GR B agiu 28 vezes, nove ações a menos.
As equipes tiveram um desempenho parecido ao longo do campeonato e não houve diferença significativa nas finalizações sofridas em ambos, então comecei a refletir sobre os motivos que levavam essa diferença numérica de ações entre os jogadores. Para análise, dividi as ações em "Habilidades Específicas" (ações de proteção à meta), "Reposições" e "Passes". Ambos os GRS tiveram a reposição como a ação de maior incidência dentro do jogo, seguido dos passes e por último, acreditem, ficaram as habilidades específicas.
Resolvi ir a fundo em cada uma das ações. Nas habilidades específicas, cada um agiu em média sete vezes durante as partidas e a saída é a ação de maior incidência nesse aspecto. Nas reposições, os dados me mostraram que o GR A tinha um aproveitamento de 65,9% e o GR B, 43,3%. Nos passes, essa discrepância era maior ainda: 73,5% contra 46,8%.
O GR B recolocava a bola em jogo e fazia o passe mais para a equipe adversária do que para sua própria equipe. Em meio a esses dados observei que o GR A, além de ter um aproveitamento maior nos passes, participava mais neste quesito. Enquanto o GR B realizava seis passes em média por jogo, o GR A realizava 15. Sendo assim, a diferença "estatística" entre os GRS estava na participação com os pés dentro do jogo.
Com esses dados podemos levar a discussão para inúmeros caminhos, contudo quero discutir a especificidade do treinamento e a participação deste atleta no Modelo de Jogo da equipe. Para o treino ser específico, ele precisa se apropriar da realidade encontrada no jogo.
No jogo, observei que esses atletas específicos agem relativamente pouco em ações de proteção a meta, logo, o treino deve levar em consideração esse fato. Senão corro o risco de preparar o GR apenas para essas "sete ações" de proteção a meta dentro do jogo. A realidade desta posição não se resume a essas ações, contudo as ações de proteção a meta são emergências, aleatórias e requerem uma resposta adequada para que o adversário não marque o golo. Para dar as melhores respostas, este jogador precisa ser treinado de forma adequada e não de forma exaustiva, pois isso não representa a especificidade do jogo. Um GR no jogo dificilmente fará quatro defesas no mesmo lance: ele terá que defender bem apenas uma bola durante um longo intervalo de tempo; às vezes durante todo o jogo. Para defender essa única bola ele precisa analisar, tomar a melhor decisão e agir da melhor maneira possível. Durante o restante do tempo de uma partida o GR precisa estar inserido na organização coletiva da equipe!
Essa inserção não é nada fácil, e os treinos precisam ser elaborados para tal. Visto que o GR B parece não estar integrado no Modelo de Jogo da equipe e não possui uma boa relação com bola com os pés. Essa não integração não atinge apenas o GR, mas toda a equipe, pois se esse jogador recoloca a bola em jogo ou faz um passe mais de 50% das vezes de forma errada toda vez que a equipe precisa se organizar rápido para recuperar a bola ou para impedir que o adversário chegue até o golo.
Já o GR A é um exemplo de GR integrado no modelo da equipe e vem se destacando por isso há algum tempo. Ele é um jogador como outro qualquer antes mesmo de ser GR.
Em muitos jogos ele participou da manutenção da posse de bola, fez coberturas, cortou lançamentos, etc. Várias de suas ações realizadas com os pés evitaram que a equipe adversária chegasse a sua meta.
Será então que quanto mais integrado o GR menos ele agirá nas ações de defesa à meta?
Claro que a resposta não é nada simples e cada comissão deve pensar em seu Modelo de Jogo e em como o goleiro deve participar do mesmo.
O fato é que a integração é complexa e as atividades devem ser elaboradas a fim de atingir os objetivos relacionados às "habilidades específicas", "reposições" e "passe" do GR.
A atividade abaixo ilustra como uma atividade pode ajudar na integração do GR na organização coletiva da equipe e desenvolver sua habilidade com os pés. Lembre-se que essa atividade é utilizada para fins didáticos e não pode ser entendida e aplicada de forma isolada, mas sempre contextualizada ao Modelo de Jogo da equipe e ao processo de treino.
Descrição
- Atividade é composta por duas equipes de quatro jogadores mais um goleiro.
Pontuação
- Equipe marca três pontos se fizer o golo.
- Equipe marca um ponto se trocar cinco passes utilizando o goleiro.
- Equipe marca cinco pontos se trocar cinco passes utilizando o goleiro e fizer o golo.