Assim é, pelo menos é o que sinto. Sermos pais de um guarda redes é diferente. Não é melhor nem pior. Simplesmente diferente. Temos outras ‘preocupações’ e vivemos o jogo de forma distinta de como fazem as famílias dos outros jogadores em campo.
Os pais, avós, tios, são os que os levavam aos treinos, aos jogos, os que estavam ali nas vitórias e nas derrotas.
Como pai de um pequeno guarda redes, proponho-me a realizar uma séria reflecção subjectiva sobre a diferença de ter um filho entre postes.
Tudo isto é baseado na minha experiência.
Seguramente que não tem valor cientifico, mas creio que que muitos pais e mães de guarda redes se vão sentir identificados.
Ser pai de um guarda redes é diferente porque o nosso filhos tem um papel especial no jogo.
Um dia no blog que temos dedicado a reflexões e pensamentos como pais de um guarda redes, escrevemos um artigo que tinha o título de ‘guarda redes – jogador, as diferenças estão no "quase". Tratava-se de uma reflexão sobre as diferenças entre uns e outros.
A comparação girava em torno da palavra ‘quase’.
Assim quando um pai/mãe perguntava a um filho avançado como tinha corrido o jogo, ele poderia responder ‘quase meti um golo’.
No mesmo pressuposto um miúdo guarda redes a resposta poderia ser ‘quase defendi um golo’. Em ambos os casos não tinham atingido o seu objectivo, mas um não tinha tido maior relevância e no caso do avançado o resultado tinha sido um golo.
Em família temos de ter consciência disto e aprender a conviver com isto como eles o fazem. Sabendo que uma falha sua é muito mais relevante que a de um jogador em campo.
O trabalho do pai/mãe neste caso é ser um apoio nesses momentos.
No nosso caso tentamos induzir, espero que com êxito, que quando se sofre um golo há que levantar-se e seguir. E pode parecer fácil o papel, mas explicar isto a um miúdo de 5 anos não é. Ser pai de um guarda redes é diferente porque o nosso filho vive de forma diferente o jogo.
Um dia li uma frase que dizia algo assim: ‘’habitualmente sou o melhor da equipa quando a minha equipa não jogou bem.’’ E está muito correcto. Actualmente o nosso filho está nos pré benjamins do segundo ano. Esta categoria é muito irregular, com equipas muito fortes e muito fracas.
Não existem divisões, por isso jogam todos contra todos.
Isso faz com que haja jogos em que a sua equipa ganha por 10 – 0, jogos em que nem chega a tocar na bola.
E outros jogos em que perdem por 5 – 1 mas que chega a defender 20 remates.
Quem é que dos familiares das equipas sai mais contente?
Claro que os que ganharam.
E quem é que sai mais feliz numa família de um guarda redes?
No meu caso claro, os que perdem, porque é onde o meu filho se divertiu mais e aprendeu algo.
Agora o nosso filho está um pouco mais maduro e quando não tem trabalho em campo tenta ajudar a equipa animando-a da sua área do campo, mas há um par de temporadas, com 4-5 anos, era a sua maior tristeza. O que fazer com um miúdo desta idade quando em 40 minutos de um jogo não joga uma única vez?
Outra coisa era quando jogavam contra equipas mais fortes.
Aí si ele disfrutava, apesar de perderem. Com este exemplo queria reforçar a diferença entre ser família de um guarda redes e um jogador de campo.
Ser pai de um guarda redes é diferente porque a nossa atenção se centra na nossa própria baliza, quando o resto das famílias o ponto de atenção é a baliza contrária. Vou-vos propor um exercício curioso.
Quando forem ver um jogo de futebol de formação tentem encontrar o pai do guarda redes, sobretudo nos primeiros anos do futebol formação.
Em muitos dos casos vão encontra-los atrás da baliza, ou numa das laterais mas não muito longe. E o resto das famílias?
A maioria na zona de ataque para ver os golos.
No meu caso pessoal tento ficar numa das laterais, de frente para a área.
O seu primeiro treinador aconselhou-me a nunca me colocar atrás, pois podia ser causa de distracção para o miúdo. E desde então, se o campo me permitir, coloco-me ali.
E na maioria das situações sozinho, ou acompanhado do pai do defesa.
E às vezes digo a mim mesmo que é uma grande confusão. O nosso filho fará igual esteja eu perto ou não, mas é uma espécie de hábito que acredito que muitos pais com filhos pequenos, guarda redes, devem ter. Ser pai de um guarda redes é diferente mas mesmo assim estou orgulhoso de ser ‘pai de um guarda redes’. Sofro seguramente mais que os outros pais, mas cada dia um pouco menos. Esta diferença não é sempre bem aceite por isso gostaria de aproveitar estas linhas para dedicar umas palavras aqueles pais que não deixam os seus filhos serem guarda redes, por ser uma posição ingrata. Deixem os vossos pequenos serem o que quiserem. De início é complicado quando se assume aquele papel na equipa e te das conta que ser guarda redes é algo diferente mas essencial no futebol. Provavelmente nunca marcará um golo, mas chegará o dia em que pára uma bola impossível, e esse dia sentirão um orgulho difícil de explicar. E haverá maus momentos, quando o teu filho falha, mas nesse momento verão como se levanta, e aí perceberás como ser guarda redes o torna mais forte psicologicamente. Porque quando um miúdo se forma como guarda redes, não só o faz fisicamente, também o faz mentalmente, o que pode ser uma grande lição para a vida.
E essa formação mental também teremos de desenvolver com a família para puder desfrutar 100% deste desporto que é ser guarda redes de futebol.